top of page

Realidade e poder


Estamos vivendo período de intensa dificuldade em reconhecer-se e estar no mundo de modo real. O homem em todos os tempos buscou compreender a existência, e a fome de respostas plausíveis a questões extremamente complexas, sempre o levou  a aderir a um tipo de filosofia de vida. Nesse caso, pode ser tanto alguma já estabelecida como criar outras que possam dar sentido a sua existência.


Entretanto, assuntos que em uma época foram incorporadas ao convívio social como uma verdade, em outras gerações foram corrigidas ou aprimoradas por novas visões. Isso, porque percebeu-se que uma parte tomada pelo todo foi apresenta como verdade, enquanto era apenas parte de um universo muito mais amplo em determinado  contexto, ou porque a experimentação de uma existência pautada nesses mesmos conceitos foram comprovadamente ineficazes.


Apesar de uma realidade bastante remota, a bem pouco tempo, houve uma maior explosão de mestres, gurus, magos, profissionais de autoajuda, mentores entre outros  profissionais que  vendem a possibilidade de uma vida pautada no “poder”. E soluções imediatas.


Esse anseio ultrapassa gerações, e a demanda faz aumentar e diversificar cada vez mais a oferta, e  assim muda-se a nomenclatura desses profissionais sem contudo mudar a função. Em sua maioria, vende ilusões. Não há aqui uma tentativa de culpabilizá-los, visto que boa parte dentre eles é oriunda de um processo multiplicador ou “multinível”. E, para além disso, a expansão desses, retrata uma resposta ao desejo de uma sociedade ou um modo cultural instalado. É possível fazer diversas leituras desse processo, e a adesão, a compra dessas ideias diz muito da sociedade em determinado tempo na história, como por exemplo, o  perfil e também valores que regem.


Houve um período em que a palavra de ordem foi o empoderamento. A palavra empoderamento vem de “poder”. De algum modo houve um entendimento literal e a máxima apregoada foi “ tudo que você quer você pode”. Se desdobrando em outras “palavras de ordem” ou frases de efeito, como:  “Se você mentalizar sobre algo, já alcançou metade do caminho para o resultado positivo”; “Você pode ser o que quiser”, entre outras.


A tentativa de formar pessoas mais autônomas, que acreditam em si mesmas, parece ter encontrado um desvio na rota e resultou em uma geração em que o indivíduo mantém a centralidade em si mesmo, seja na vida profissional, pessoal, na relação com a família e com a sociedade. E essa geração deu origem a uma geração que possui a mesma característica quanto ao modo de pensamento, porém com um exponencial, e então o padrão antes, tão desejado necessita hoje ser tipificado muitas vezes como um  transtorno.


O acreditar em um poder ilimitado é tão danoso como não acreditar em si mesmo. De modo semelhante à baixa autoestima, a autossuficiência gera um sujeito em desajuste, com propensão à fobias e transtornos. Com risco de incorrer na chamada Síndrome hubris, patologia pouco divulgada, também conhecida como doença do poder.


Ainda é possível perceber um número cada vez maior de pessoas com dificuldades de aceitar a vida real, aceitar-se, aceitar o outro e isso gera uma vida pautada no falseamento da existência, na dificuldade em relacionar com as pessoas e principalmente encarar a vida real. Desse modo a autobiografia desses sujeitos vira um compilado de frases feitas e vazias de sentido. E a  infelicidade vem como resposta a uma demanda que  esse mesmo sujeito não dá conta. É muito provável que haja um enorme gasto de energia em uma luta perdida. E essa luta passa a ser o próprio sentido da existência para algumas pessoas que  tateiam ao longo da vida em busca de respostas que aliviem a sua dor de encarar a realidade.  E assim ajustarão novos mestres, magos e gurus, mentores para si, de modo que digam o que corresponde ao que agrada aos seus ouvidos, sem contudo provocar um desenvolvimento pessoal verdadeiro. 


Edite de Jesus Pereira 

Neuro/Psicopedagoga - SME MOC/ Screnner habilitada para aplicar a testagem da Síndrome de Írlen.


208 visualizações0 comentário
Snapshot_45.png
bottom of page